terça-feira, 16 de junho de 2009

recife e olinda






Subindo ao longo da costa, chegamos a Recife e a Olinda, cidades-gémeas nascidas no período colonial. Com os ávidos avanços e retrocessos de portugueses e holandeses, estas duas cidades vêem as suas histórias entrelaçadas. A capital do estado de Pernambuco começou por ser um povoado que existia apenas em função do porto e à sombra da sede em Olinda – local onde a aristocracia portuguesa escolheu residir, devido à sua localização estratégica (1537). Com a posterior ocupação holandesa (1630), os papéis invertem-se, passando Recife a ser o centro das decisões. 24 anos passados, os portugueses retomam o poder, que volta a subir a encosta. Finalmente em 1837, Olinda, já livre de donos indecisos, perde de vez o título de capital para o Recife.

Hoje com uma área de 217,494 km² a albergar 1 milhão e meio de pessoas, Recife ganhou proporções gigantescas. Arranha-céus polvilham os 95 bairros da capital que foi considerada a mais perigosa do Brasil. Mas vale a pena não perder de vista os 20 km de areal, com a praia da Boa Viagem a fazer as honras da casa.

Esta praia urbana lembra as telenovelas brasileiras, com a pista de jogging do calçadão a chamar por pés atléticos. O ideal é aproveitar o mar apenas na maré baixa e nunca ultrapassar a barreira de recifes, já que os tubarões costumam preferir estas águas mornas para os seus passeios furtivos, quando a maré enche.

Depois do almoço (nosso, não do tubarão), apetece uma visita ao Centro histórico, também conhecido como bairro do Recife, onde se situa o porto, outrora tão defendido pelos holandeses. Na Praça Barão do Rio Branco, ou Marco Zero, uma rosa-dos-ventos desenhada no chão assinala o ponto inicial das estradas de Pernambuco. Ao olhar em redor, somos transportados para os anos vinte, com as fachadas do Instituto Cultural Bandeque, da Associação Comercial do Recife e da Bolsa de Valores a lutar pela nossa atenção.

Mas está na hora de subir o monte que nos tem prendido a curiosidade o dia inteiro. Lá do alto, a olhar para as águas cortadas por recifes da praia da Boa Viagem, a cidade de Olinda funciona como um miradouro natural. É um bocado redundante dizer que esta vista ganhou o apelido de Património Cultural da Humanidade (Unesco 1982). É deslumbrante.

Entretanto o caminho faz-se íngreme, com as pedras da calçada portuguesa a fazer o desafio crescer. Olinda pintou o seu valioso casario colonial de cores vivas. As ruas são pitorescas e alegres. Do ponto mais alto, o Alto da Sé, vêem-se pequenas casas coloniais que foram semeadas entre altos coqueiros e mangueiras frondosos, de onde saltam as torres das inúmeras igrejas.

No entretanto, passámos pela feira de artesanato que se estende até à Sé, com especial destaque para o Sítio das Artes (Rua Bispo Coutinho 780), uma casa que chama à atenção pela fachada grená vivo e reúne madeiras trabalhadas, quadros e artesanato da região. “Amou daquela vez como se fosse a última. Beijou sua mulher como se fosse a última. E cada filho seu como se fosse o único...”. Focámos de repente a nossa atenção: a voz de Chico Buarque chama de um dos restaurantes simples bem ao lado da Sé, lugar perfeito para uma cerveja gelada, acompanhada de queijo coalho assado ou tapioca com coco, duas especialidades da cidade das igrejas portuguesas primorosamente caiadas de branco entre a contagiante vegetação tropical.

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