segunda-feira, 3 de agosto de 2009

dia 2




Ora bem, como explicar as emocoes do meu 1o pequeño-almoco: Banana (bananabananabananaaaaa naaaaaaao!!! serà que vai ser todos os dias??), peixe assado e arroz branco sem sal. Um senhor simpatico de cabelos grizalhos e corpo jovem traz-me o prato ao tamboo às 9h e sugere que coma enquanto està quente. De todos os modos ja estou bem acordada, entrei no ritmo da luz natural. Uma hora antes, um rapaz mais novo veio trazer-me umas folhas boas para tomar banho (tendo em conta que nao temos champoo ou produtos quimicos que tais, esta-me a parecer que vou estar "interessante" no final do retiro), que se esfregam com agua e deitam uma seiva verde que cheira mt bem :)

Afinal a banana nao è assim tao mà :) è assada, e assim nao tem acucar (estamos a fazer uma dieta de sal e acucar, para que o corpo descanse um pouco das comidas agressivas que nos habituamos a ingerir), entao parece castanha e quase que escapa. Depois de ler 2 capitulos de Mia Couto acompanhados de chà de Bobinsana, vou dar um mergulho atè à praia da Nadine, quase no final do trilho principal. Pelo caminho cumprimento todos os meus selvaticos companheiros, uns dormitam, outros leem, o Paulo està a pintar um quadro (como è que ainda nao disse que o Paulo “consegue” dobrar colheres com o pensamento?!) e a Marta a fazer uns exercicios de ioga. A Nadine ainda està a dormir! Vou a nadar desde o tamboo mais longe atè ao primeiro, a Maloca, onde serao as cerimonias. Que caminho tao lindo! Borboletas voam à minha volta! Azul indigo, laranja, castanhas, brancas, lindas. Encontro a cascata que a Rya tinha falado e nisto chego ao meu tamboo. Enfio novas sandalias, ja que as minhas coisas ficaram no tamboo da Nadine e nao convem andar descalca por estas bandas, e vou buscar as minhas coisas às "terras do norte". Ah! Ela ja està acordada :) Vamos entao as 2 à cascata. Por là perto encontramos o Kalid a apanhar sol e um pouco depois chegam a Bianca e o Paulo, que nos devem ter ouvido. Ainda durante a manha, encontro um tronco muito giro para apanhar sol! O meu tronco daqui em diante, como lagartixa viciada em sol que ha em mim :)

Bilheeek! Pelas 14h trazem-nos o almoco e sao papas de aveia com nova banana assada! Provo a papa, que me dà vomitos e como sò a banana, com musica dos SOJA bem alta nos ouvidos, para nao pensar mt no caso… Pelas 16h, o melhor spot è estar sentada à chines numa pedra mesmo colada à agua, onde brilha um sol quente mas nao escaldante mt bom! Tocaram os tambores! E' hora da primeira cerimonia :)

1a cerimonia: Quem sou eu?
Chegados à Maloca, sentamo-nos em roda em grandes almofadoes e o Don Josè pergunta sobre as nossas primeiras impressoes, explica um pouco as razoes desta escolha alimentar e fala sobre o xamanismo peruano e o seu caminho pessoal atè aqui. Ele è muito simpatico e muito humilde (quando se apresentou no aeroporto eu pensava que era o senhor que nos ia levar as malas, mas isso è um pormenor ihih). Olho para todos, sentados dentro desta sala sem paredes sob um tecto conico feito de folhas de palmeira secas. Fazemos uma pausa de cinco minutos para esticar as pernas e relaxar um pouco. A cerimonia comeca com o entoar de icaros (canticos indigenas de agradecimento e conexao com a natureza) e com a purificacao simbòlica do espaco (o D. Jose expira o fumo branco de um cigarro natural para os 4 pontos cardeais e para a TAL bebida, que depois è entregue a um de cada vez). Vou là ao centro e tomo o pequeno calice. Bom. Jà està. Vamos la descobrir o que è isto da Ayahuasca! ("vou abrindo ao medo as minhas maos" como canta um certo bandido fugitivo).

Ao inicio estava tudo normal. (Demasiado normal? Serà que tomei demasiado pouco? Serà que nao me faz efeito? Serà que afinal isto nao passa da estoria do “rei vai nù” versao ines a armar-se em diferente na Amazonia?) A luz do dia ia morrendo. Estava tudo em silencio. Fechei os olhos e, de repente, comecei a ver flores e espirais pequeninas, como se um grande jardim se materializasse à minha frente, ao som dos ruìdos do crepusculo. Imagens geometricas pequeninas de cores vivas iam como que dancando em voltas, como oitos ou o movimento do swing poi. Quando abria os olhos tudo voltava ao normal: os meus companheiros estavam sentados em circulo, todos confortaveis, ora de olhos fechados ora abertos. Mas depois a noite chegou e ficou tudo escuro. Foi rapida a mudanca de luz e sò depois me apercebi da imensidao daquela escuridao. Medo! Um medo ou receito de nao poder ver onde estavam todos ia subindo pela minha garganta acima. Porque nao se via nada, quando abria os olhos continuava a ver a danca (que depois ficou mais frenetica) de cores e formas, que agora eram caras. Muitas caras (parecia que eram as caras todas do mundo!) passavam à frente dos meus olhos, sempre de um lado para o outro. Eu tocava nos meus olhos e sentia que eles estavam abertos, mas era como se nao conseguisse despertar. Porque nao parava de ver tais desenhos? Estaria a sonhar?

A certa altura (que horas seriam? O que eram “horas” num momento como este?), reparei que tinha os labios mt secos: bebi, entao, varios goles de agua que estava ao meu lado (levava sempre a minha garrafa de agua e a lanterna, para o caminho de volta). Toquei no meu cabelo, na minha roupa, no chao de madeira, nas almofadas onde estava sentada, parecia que estava a usar o tacto pela primeira vez, tinha mta sensibilidade. Ao mesmo tempo, ao tocar sabia que o meu corpo estava ali, mas eu estava tao longe – "Onde e' que eu estou??" – disse baixinho 3 vezes, sò para ouvir a minha voz.

Depois acabou. A musica parou (tinha havido musica??) e a danca das caras desapareceu. Ouvi vozes que reconheci a suspirar e a dizer "gracias". Acenderam-se umas velas e algumas pessoas comecaram a falar e a levantar-se. Vi que estàvamos todos afinal tao perto! Com o escuro pareceu que tinha sido levada para mais longe e estava sozinha na noite. Tive uma sensacao imensa de sede. Tinha de beber agua! A Rya, o Kalid e a Bianca vieram falar comigo e ver como estava. Estava confusa! bebia um gole de agua e depois parecia que estava a morrer de sede e bebia mais. Em seguida nao conseguia encontrar as minhas botas, pq pareciam todas demasiado pequenas e sò queria ir para o meu tamboo dormir, estava assustada por alguma razao, nao queria ficar mais tempo na Maloca. Viemos todos juntos embora e a Rya ficou no meu tamboo atè eu ficar mais calma. Adormeci com um copo de agua no banquinho ao meu lado e com uma vela acesa em frente.

Conclusao (ya… uma conclusao daquelas tao conclusivas que tu dizes “xii granda concluidora de conclusividades concluidìssimas que tu me saiste”): Vi um turbilhao de vidas passadas, caras e mais caras passavam vertiginosamente por mim, entre movimentos em espiral e infinito. Com a musica, flashes de gente apareciam e desapareciam, enquanto eu nem me movia, estupefacta sentada na almofada, qual acento de nave espacial às voltas do espaco. Antes de ser Ines fui muitas outras pessoas. Atè que cheguei aos primordios e era um peixe. No final da cerimonia tinha uma sede incontrolavel, bebia varios goles de agua e estava sempre com sede. Tive uma vontade enorme de ir para o rio e ja quando estava deitada na cama, continuava sempre a olhar para a agua com um medo estranho de desidratar. Adormeci em paz, com um copo ao lado. A parte essencial do meu corpo foram os olhos, que foram inundados de informacao confusa e inesperada.

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